Talvez para você, a expressão pode ser nova, porém essa prática é muito antiga. Talvez já tenha sofrido ou, até mesmo, praticado. Saiba como enfrentar este problema.
Por Nat Valarini
Nos cinemas essa desagradável situação já foi mostrada em filmes como o clássico “Three O'Clock High” ou, “Te pego lá fora” (imagem abaixo).
Quem não se lembra da comédia que conta a trajetória desesperada de Jerry Mitchell?
Vamos a um breve resumo: a história começa com Mitchell sendo encarregado de escrever uma matéria para o jornal da escola sobre o aluno novato, Buddy Revell. Porém, ele não gosta que saibam a seu respeito. O ponto definitivo para Revell datar a "sentença de morte" do protagonista da história foi porque durante a primeira conversa que tiveram o mesmo "tocou" em Buddy. Então, Jerry Mitchell recorre a todos os meios possíveis para não ter que brigar com o valentão da escola.
Se tratando deste problema a vida não imita a arte, a realidade não é nada engraçada. Os “motivos” podem ser os mais fúteis, como os retratados no filme.
Bullying é uma palavra de origem inglesa usada para designar as diversas formas de assédio repetitivos praticados por um indivíduo contra outro “mais fraco” seja física e/ou psicológicamente, podendo ser motivada também por desigualdades sociais, para ridicularizar e intimidar o outro. Quem o pratica é conhecido como Bully. Ele geralmente escolhe sua vítima em potencial perseguindo-a com insultos sobre sua aparência, comportamento, visual, local onde reside, time para o qual torce, gosto musical, etc.
Não é uma regra, mas nota-se que na maioria dos casos, o agressor provoca pessoas com menos desenvoltura que ele, em geral, tímidas, onde consegue sucesso ao humilhar publicamente o indivíduo aplicando práticas como:
Agressão verbal: por meio de apelidos, xingamentos, ameaças;
Agressão física: que começam com “brincadeiras” agressivas que envolvem tapas, chutes empurrões, passando para o espancamento;
Intimidação: através de postura, olhar, chantagem;
Isolamento: não se relaciona com a vítima e induzindo os outros indivíduos do grupo a se portarem da mesma forma através de influência ou intimidação;
Boatos: Disseminação de histórias falsas sobre o colega; Críticas negativas: onde tudo o que se refere a pessoa é tratado com comentários pejorativos .
Indivíduos chegam a mudar a rotina, os lugares que freqüentam, o colégio, e até de residência para fugir da perseguição, muitas vezes, sem sucesso, pois que garantia temos de que o problema não vá surgir em outro local?
O cenário perfeitoComo podemos ver, a pessoa que passa por essa experiência ruim é massacrada e porque não dizer, torturada, de forma cruel, muitas vezes, sem oportunidade de defesa e sem receber auxílio das demais pessoas envolvidas direta ou indiretamente.
O local onde mais freqüentemente podemos notar essa situação é o
ambiente escolar. Muitos pais e responsáveis não percebem ou se notam algo estranho, poucos sabem como identificar se seus filhos estão passando por essa situação ou mesmo como ajudá-los. Acredito que a forma mais clara e eficiente é observar o desempenho do estudante.
Notas baixas,
falta de interesse na escola,
faltas sem motivo aparente,
mudanças repentinas de humor, denunciam que algo não vai bem, seja bullying ou outro motivo.
É muito importante que fiquemos atentos. Procure dar apoio, inscrever a criança em outras atividades fora do colégio para que ele tenha um outro círculo de convívio social, reconheça e elogie suas capacidades para estimular sua auto-estima. Se o seu caso é de filho agressor, procure conversar de forma firme, sem violência, explicando e fazendo-o entender que suas atitudes prejudicam outra pessoa, ensine-o sobre suas responsabilidades, valorizando as suas mudanças de comportamento positivas e sinais de arrependimento que ele possa demonstrar. Lembre-se não é de maneira agressiva que vai conseguir ensinar que ele está errado. Em vários países, a direção das escolas vem desestimulando as perseguições deste tipo.
Comportamento agressivo em adultos
Ao longo da vida, as pessoas podem crescer e persistir com este comportamento na adolescência e ainda na vida adulta praticando os mesmo gestos da infância no ambiente de trabalho, com seus vizinhos, no ônibus, na política, ou seja, onde quer que o ambiente e a vítima lhe pareçam propícios. Desde pequenas, as crianças assumem o papel de agressor ou vítima, podendo, por incrível que pareça, quem um dia foi agredido tornar-se o autor dos abusos. Essa lógica parece um pouco complicada, porém, alguns tornam-se agressivos e passam a atacar para se defender e, inconscientemente, agir assim para passar ao grupo uma imagem de intimidação e evitar que sejam molestados novamente. Já em outros casos, ainda mais graves, quem é atormentado sucessivas vezes, pode desenvolver problemas psicológicos graves, como por exemplo, a depressão. As vítimas podem chegar a cometer atitudes extremas como o suicídio ou mesmo assassinato daqueles que o atacam. Logicamente cada caso diferente, mas é verdade que essa prática traz danos para o resto da vida.
Internet, griefers e o cyber bullying: uma arma.A rede mundial de computadores tem sido usada ativamente para espalhar de modo mais eficiente as perseguições. Donos de blogs e usuários de sites de relacionamentos vem sofrendo ataques semelhantes aos relatados acima, mas aqui os griefres (como são conhecidos na atmosfera virtual) ganham a vantagem de se esconder no anonimato ou por trás de outra identidade, além do que, as ofensas são divulgadas com uma velocidade impressionante além de serem perpetuadas. Um dos casos que mais me chamou atenção foi o da a adolescente americana Megan Meier, que após receber mensagens depreciativas de um personagem fictício criado por suas vizinhas no site de relacionamentos My space matou-se enforcada com um cinto aos de 13 anos de idade no ano passado.
Acima, foto de Tina Meier, mãe de Megan, segurando o retrato de sua filha que se matou ao ser vítima de griefers. Abaixo, Lori Drew, uma das vizinhas de Megan Meier. Ela e sua filha foram responsáveis pelo cyber bullying. Foto:
ABC NewsGregory Brown, especialista em suicídio na Universidade da Pensilvânia, afirmou que humilhação pública pode influenciar um suicídio porque "a desesperança é muitas vezes um sério fator de risco, e caso você tenha sido publicamente humilhado e sua reputação tenha ficado marcada, seria fácil chegar a um estado de desesperança". Situações como essa, ele afirma, contribuiriam para a sensação de que a vida é intolerável.
GAROTA PENDURADA! ENTREVISTA Conversei com uma vítima de Bullying. Nossa entrevistada, que prefere se identificar apenas como “M.” relata sua experiência:
GAROTA PENDURADA!: Como tudo começou, em qual local?
M.: “Na escola. Acho que após ter perdido meu pai, fiquei melancólica por um tempo. Comecei a sentir dificuldade em me abrir, eu era tímida e não levava jeito para esportes. Acho que eu não era o padrão de pessoa que eles esperavam. Isso foi um prato cheio para as perseguições começarem. Eu estava na 6ª série”.
GP!: O que seus colegas faziam com você?
M.: “Me humilhavam de todas as formas, colocavam apelidos, falavam das minhas roupas, jogavam coisas em mim em plena aula.”
GP!: Durante a aula? O que os professores faziam?
M.: “Os professores não diziam nada. Pediam silêncio para prosseguir com a aula e só. Diariamente todo mundo via o que eu passava, eram omissos. Ninguém me ajudava, aquela humilhação era constante.”
GP!: Uma característica do Bullying é a propagação de boatos, isso ocorreu com você?
M.: “Sim. Uma garota chegou a inventar que eu gostava de um colega de sala, e ele ao ouvir isso, começou a me perseguir também. A única “amiga” que fiz na sala se afastou de mim devido aos comentários que faziam.”
GP!: Como você encarava aquela situação?
M.: “Minha vida se transformou num inferno. Eu chorava muito sozinha. Não conseguia me sentir bem, vivia triste, me tornei um pessoa deprimida. Sei que algumas pessoas vão ler isso e provavelmente dizer: ‘A culpa é sua, por que não reagiu, por que deixou?’ Mas a coisa toda não é tão simples assim, para quem está de fora é muito fácil falar. Eu estava passando por problemas familiares muito grandes e estava super fragilizada. De início sentia medo de revidar e acontecer algo. E na verdade aconteceu.”
GP!: O que aconteceu?
M.: “Estudava à tarde de segunda a sexta. As aulas de Educação física eram feitas duas vezes por semana no período inverso. Durante um jogo de vôlei pela manhã, uma das meninas começou a me chamar por apelidos. Estava farta de tudo aquilo e dessa vez eu não agüentei e respondi a ela, ao invés de ficar calada como sempre fazia. À tarde, antes da aula começar, ela chegou à minha mesa e me deu um soco. Fui à direção denunciar, pois não suportava mais aquilo, ela foi chamada para conversar com os coordenadores do colégio.”
GP!:E o que medidas o colégio tomou, surtiu algum efeito na forma como seus colegas a tratavam?
M.: “Deram uma advertência verbal. Conversaram com ela explicando que não poderia fazer aquilo. Ela disse que me bateu porque de manhã eu a xinguei. Falei para a coordenadora que desde o início do ano letivo ela e outros colegas me perseguiam, contei toda a história. Ela disse a garota que se aquilo se repetisse iam tomar medidas contra ela. Ao menos não fui mais agredida fisicamente, mas aquilo não parava. Acho que a ação do colégio não foi muito efetiva, pois tudo estava na cara deles o tempo todo e deixaram a coisa acontecer. Além do que acho que para parar essas ações de bullying não basta ameaçar o agressor com punições, o corpo docente tem que trabalhar em cima de educação e respeito ao próximo, princípios básicos de caráter, sabe? A escola não serve apenas para ensinar fórmulas e regras de português, ela deve atuar na formação do cidadão também. Todos os anos vejo novos casos parecidos ou até piores que o meu e não vejo um empenho de verdade do corpo docente, no caso das agressões praticadas nas escolas. Mas o que esperar de uma escola pública onde você mal consegue ver as matérias da grade curricular porque falta material, profissionais, onde todos os anos há greve de professores. Você acha que eles estão realmente preocupados com isso? São raras a exceções.”
GP!: De um modo geral, como isso afetou sua vida?
M.: Eu perdi o ânimo para comer e para ir a escola, não tinha alegria de viver. Comecei a faltar, em especial as de educação física, buscava fugir da situação da forma como podia. Minhas notas caíram sem parar, até que eu reprovei de série.”
GP!: E sua família sabia o que acontecia? Notaram algo de estranho, devido ao seu desempenho ter caído tanto a ponto de reprovar?
M.: “Não contei para ninguém. Eu tinha muito medo. Uma bobagem, ‘né’? Não sei se poderia ter sido diferente se contasse, já passou. Minha mãe ficou chateada por eu não ter sido aprovada na 6ª série, achou que foi falta de interesse nos estudos, ela não sabia. Mas para mim foi um alívio, pois este colégio público em que eu estudava as séries se alternavam de turno: pela manhã era a 7ª à tarde a 6ª série. Então apesar de saber que para mim repetir um ano era um longo tempo perdido, por outro lado eu me vi livre de conviver com aquelas pessoas que me maltrataram tanto, sem motivo algum.”
GP!: O que sente por aqueles que fizeram tudo aquilo contigo?
M.: Durante muito tempo senti muito ódio deles e ficava muito triste quando vinham os fleches de memória dos insultos. Jamais entendi sua motivação, porque fizeram aquilo logo comigo, entende? Nunca lhes fiz mal. Mas superei, recuperei minha auto-estima.”
GP!: E o que a ajudou a superar? Como está sua vida hoje?
M.: “Em primeiro lugar DEUS. Bom, eu acredito. Tenho fé. O tempo passou, as feridas cicatrizaram, vivendo adquiri maturidade. Vi que não sou nada daquilo que falavam a meu respeito. Acho que faziam aquilo porque eu era imatura. Porque queriam se mostrar fortes, mas na verdade alguns são tão fracos que precisam se sobressair em cima de alguém frágil para mostrar que são alguém eles buscam se auto-afirmar. Descobri que há em mim uma força para lutar pelos meus objetivos. Hoje em dia não deixo palavrinhas negativas me desanimarem. Sou realista e consigo separar a crítica construtiva (que pode me ajudar a crescer) de insultos e coisas do tipo."
GP!: Que mensagem gostaria de passar para quem pratica essas agressões e também para os que sofreram o mesmo que você ou passam por isso hoje?
M.: "Bom, não sei o motivo pelo qual o bully, griefer, etc. age assim, porém eu digo que a atitude é errada. Nada Justifica nada, pode explicar, mas não justifica. Quero dizer que, se a pessoa tem uma família desestruturada, um dia difícil, um problema, não é descontando isso em alguém que a situação será resolvida. Nós não sabemos como vamos estar amanhã. De repente o agressor de hoje pode vir a ser vítima. Eu espero, de coração que isso não aconteça, eu vivi isso e garanto que não é algo bom, tomara que eles aprendam isso de outra forma. E para quem está sendo perseguido, digo que não tenha medo ou vergonha de pedir ajuda. Não deixe que te massacrem. Você não é obrigado a aceitar essa situação, evite que isso evolua.”
Agradecimentos:
M.
Wikipédia
Observatório da infância e demais colaboradores.
Já ouviu falar em BULLYING ? by
Nat Valarini is licensed under a
Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Vedada a Criação de Obras Derivadas 2.5 Brasil License.
Based on a work at
garotapendurada.blogspot.com.
Permissions beyond the scope of this license may be available at
http://garotapendurada.blogspot.com/.