domingo, 12 de outubro de 2008

Infância mutilada

No dia delas, o que as crianças têm para comemorar?
Por Nat Valarini

Antes que pensem que tenho uma visão pessimista, sei que há pontos positivos, porém este é um problema grave que afeta pessoas que sequer podem se defender, isto é grave e não pode ser ignorado.
O fato é que todos os dias são divulgados novos casos de abuso físico e psicológico contra menores, em especial, as crianças menores de 12 anos. O estatuto da criança e do adolescente foi criado com o objetivo de resguardar os direitos dos menores, mas ele está sendo aplicado da forma correta?

Os abusos vão desde o trabalho escravo, passando por maus tratos e negligência entre os quais a violência doméstica (tortura física e psicológica, abusos sexuais, entre outros). O agressor, muitas vezes, alguém de convívio próximo, encontra nas crianças, vítimas em potencial seja pela inocência e a confiança que elas depositam nele, seja pela fragilidade e incapacidade de se defender. Como conseqüência temos a infância mutilada. Na idade de brincar, aprender (sejam as lições na escola, seja a amar os pais e o meio em que convive), meninos e meninas, são espancados, mutilados, queimados, humilhados e por que não dizer, massacrados?
Sim, leitor, neste momento, ao invés de uma linda e sonhada boneca, carrinho ou bicicleta, como presente: a violação. Deve estar ocorrendo em algum lugar um massacre de crianças enquanto seus olhos percorrem estas linhas. Elas crescem sem desenvolver compaixão, bichos escorraçados, sem noção de carinho e respeito, tornam-se adultos sem auto-estima, medrosos ou violentos e deprimidos, sem esperança ou perspectiva de vida e muitas vezes, sem a chance de chegar à vida adulta. O ambiente é nocivo: o lar, a escola, tudo parece persegui-la. Sem ajuda, muitas delas fogem de casa, tornando-se meninos e meninas de rua, onde passam a sofrer outras formas de opressão.
É preciso estar atento ao pedido de auxílio, pois alguns ouvem, mas não acreditam nele, outros até acreditam, mas esta criança pode estar sem condições de gritar por socorro. Às vezes, um machucado no corpo, timidez exacerbada, depressão, medo são sinais que identificam a violência.
Crianças tem o direito à educação, porém de algumas, ela é arrancada por pais que negligenciam a necessidade de aprender de seus filhos. Eles (quando têm) usam roupas sujas e sofrem de desnutrição e fome, como poderão viver assim?


Criança não é um animal de estimação que se tem quando quiser e, ao ‘dar trabalho’ é só empurrá-la para fora de sua vida como um pacote de natal indesejado. Ela é um ser vivo e futuro cidadão, que precisa de cuidados básicos como saúde, educação, carinho e amor. Ela é como uma massa de modelar que precisa da orientação de alguém responsável para ensiná-la o que é certo, mas como ela vai aprender se o que fazem com ela é errado? Temos que cuidar melhor de nossas crianças ou toda a sociedade vai sofrer as conseqüências, mais cedo ou mais tarde.


Agradecimentos:

As imagens usadas são integrantes da esposição Exodos do fotógrafo Sebastião Salgado.


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7 comentários:

  1. Concordo com vc....
    As crianças devem ser mais bem tratadas....
    Otimo post!

    Abraços!

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  2. Olá! Obrigado pelo comentário. Achei seu blog uma gracinha... despretensiosamente reflexivo, e não se trata de rasgação de seda.

    Abraço!

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  3. sinto uma coisa ruim quando ando pelas ruas e vejo aquelas famílias enormes: uma criança de mão dada com outra, com um neném no colo e outro na barriga... daí vem o sentimento de impotência diante de uma onda colossal. a questão é enorme, nao se faz nada para resolver e se pensarmos em escala mundial ( incluindo interiores e exteriores), caramba; a questão é densa....

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  4. É bem por aí mesmo. É uma brutalidade o que sofrem milhares de crianças pelo mundo. Infelizmente, acabamos nos acostumando com esses fatos e, praticamente, não fazemos nada para mudar esse quadro. Falta uma política igualitária de verdade. Mas será que nossos representantes são capazes de realizá-la?

    http://escondidin.blogspot.com/

    Até mais>

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  5. O Estatuto da Criança e do adolescente nem de longe está sendo aplicado. Falta muito ainda.
    Informação, vontade política, pensamento crítico, e outros, levam a infância e a juventude a viverem momentos de descaso.
    Até quando isso vai perdurar, depende do engajamento de cada um. fazendo a nossa parte, podemos garantir a mudança desse paradigma.
    Valeu,
    All3X

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  6. Nem crianças e nem animais de estimação podem ser jogados fora!

    Se eu ver alguém jogar um cão fora, eu dou esporro; e se eu vj maltratar e parto para cima. Bato mesmo!

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  7. ...e olha que até o Pelé falou sobre isso em 1969, quando fez seu milésimo gol.

    Tudo bem que o Pelé não seja assim uma referência adequada para falar sobre isso, mas é que me lembrei do lance e das palavras que ele disse. E que muitos dizem todos os dias. 40 anos depois, 40 anos antes daquele ano, anos e anos de abuso, violência e torturas de todos os gêneros contra as crianças. O que chamaríamos de "evolução", afinal de contas?

    Sou professor. Conheço casos e casos terríveis de crianças e adolescentes que sofreram diversos tipos de abuso. A escola é o último e único refúgio que estas crianças possuem. E muitas vezes há professores que fazem o papel até mesmo de "psicólogos" junto a esses seres humanos repletos de problemas. A escola, com todas as suas dificuldades, ainda lida com estas questões - e não pode se omitir.

    O ECA não vem sendo aplicado (como diversas leis interessantes que há no Brasil - sim, há boas leis por aqui). Para se aplicar o ECA corretamente, é preciso também haver uma mudança na sociedade em geral. Os índices de evasão escolar ao menos na BA são altíssimos. Isso porque muitas crianças e adolescentes largam a escola para trabalhar ou ajudar nas despesas de casa de alguma forma. A lei está aí, mas é preciso que o terreno "esteja preparado" para tal funcionar.

    Kiso!

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