sexta-feira, 6 de março de 2009

Vinho: a obsessão de Heitor

Por Nat Valarini

Atendendo a pedidos, posto ao lado uma foto (discreta) de um dos ensaios que fiz e abaixo, uma situação inusitada pela qual passei como modelo vivo:

Certo dia, fui apresentada a um pintor que precisava de uma garota para posar nua. Nunca havia feito aquele tipo de trabalho, achei interessante. Na casa de Heitor*, conversamos durante horas sobre arte. Ele se mostrou super profissional, então aceitei o convite e combinamos que, no final de semana seguinte, faríamos a primeira sessão.

No dia e hora marcados, cheguei ao atelier com todo o meu ‘singelo material de trabalho’. Ele, muito solicito, ofereceu-me vinho para relaxar, mas eu não quis (já não bebia mais naquela época). Então, ao som de Diana Krall, demos início. Durante cento e vinte minutos fiquei nua em pêlo, imóvel, sob o olhar atento do artista que rabiscava rapidamente.

Após encerrarmos o trabalho, vesti minhas roupas e recebi, além do pagamento, outra oferta de vinho, recusada novamente por mim . Para quebrar o silêncio, voltamos a falar sobre arte e algumas de minhas paixões: desenho e fotografia. Ele parecia encantado ao tomar conhecimento de algumas afinidades artísticas quis ser, praticamente, meu tutor.

Fui contratada para outra sessão. Ao final, Heitor mostrou-me duas câmeras fotográficas e entregou uma delas a mim, disse que era para meu começo como fotógrafa. Não quis aceitar, mas ele insistiu, disse que tinha outra e que não usava aquela. Já que a daria a alguém, que fosse para mim. Encarou-me e disse que eu não sairia de lá sem aquela máquina, uma atitude surreal. Me arrepiei!

Depois daquele momento passei uns dias sem vê-lo, mas logo o pintor passou a me ligar com freqüência, não para me convidar para novos trabalhos, mas sim para perguntar sobre as fotos e intercalava, obsessivamente, outras perguntas:
“- A quanto tempo você namora?”
“- Por que estudava radiologia médica ao invés de fazer artes plásticas ou fotografia?”
“-Por que não viajava com ele, para ajudá-lo?”
“-Você é feliz?”
“- Vamos tomar um vinho?”

A presença dele já não era mais algo leve e agradável. Não suportava ter que recusar a sua insistência para que aceitasse goles de bebida em sua, sufocante, companhia. Dispensei o trabalho e entreguei os seus objetos, a câmera ele não quis receber de modo algum.

Passado algum tempo, ele me ligou, com uma voz aflita, dizendo que nunca mais havia encontrado uma modelo como eu e que gostaria de retomar de onde paramos. Respondi apenas que já não tinha mais interesse e nem tempo... não havia mais espaço disponível para ser sua obsessão.

Não pensem que peguei trauma de nu artístico por causa desta experiência. Estou receptiva a propostas. Mas, se o contratante começar a me oferecer vinho eu vou sair correndo!

*Para preservar a identidade do cidadão, o nome foi modificado.

Imagem: arquivo pessoal.


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16 comentários:

  1. Fico pensando se a música da Diana Krall era "The Look of love". Adoro.

    Concordo com sua atitude de parar de fotografar com ele. Pois além de ser chato a recusa de um convite constante, companhia é para desanuviar, fazer bem. Quando ela passa a ser motivo de sufocamento, já não é saudável.

    Espero que esteja bem.

    Beijos.

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  2. Bom, Nat, o "material de trabalho" está ótimo, evidente...rsss

    Mas isso me fez lembrar uma história.

    Eu fiz um curso de desenho (sério!) lá pelos meus 18 anos. Começamos desenhando vasos, objetos de cozinha, saímos para desenhar casas, carros, paisagens. Uma tarde o professor falou para turma (10 alunos) que tinha uma surpresa: entrou na sala uma modelo lindíssima, tirou o roupão e ficou nua lá na frente, em cima da mesa. Teríamos 1 hora para desenhá-la. Bom, ficamos uns 10 minutos só admirando a moça, sem rabiscar nada...rsss. Mas ela permaneceu imóvel o tempo todo. Extremamente profissional. Duvido que ela tenha tomado vinho.

    Depois a moça tornou-se namorada do professor. Interessante...parece que alguns artistas se apaixonam pelas modelos, musas de suas obras. Já vi até um filme sobre isso ( e como minha memória é ótima, não me lembro do nome).Só não sei se elas tomaram vinho e ouviram Diana Krall ou Ella ou o velho e bom Sinatra.

    E alguns ficam obcecados. No caso deste seu quase "protetor". Fez bem em pular fora.

    Abraços!

    PS: eu atualizei meu tosco blog com um texto que eu sinceramente adoraria ler tua opinião...

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  3. Nat...
    Que situação, ein?!
    Homens obcecados tornam-se verdadeiros chatos incovenientes. Essa coisas de ficar ligando, perguntinhas toscas... Até que você levou na boa por um bom tempo. Minha paciência é mais curta e sou bem menos tolerante com caras que não entendem seus limites.
    E que tanta insistência no vinho, my god.
    beijo querida!

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  4. Bom dia minha querida, amada e idolatrada amiga!
    Muito legal seu trabalho, tanto esse fotográfico quanto aqui no blog.
    Adorei a postagem, não sabia dessa história e me diverti bastante lendo (sádico toda vida)!
    Relamente é muito chato quando as pessoas começam a confundir as coisas, é muito chato esse tipo de coisa e na minha opinião vc fez certo!
    Ah, a quanto tempo vc namora?
    A gente podia tomar um vinho...
    kkkkkkkkkkkkkk
    Zuera!
    Parabens e muito obrigado por compartilhar seu talento com a gente!
    bjO

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  5. esse é brasileiro e não deiste nunca. Juro, eu não agüentaria (com o trema) uma pessoa me oferecendo vinho o tempo todo sabendo que vai ouvir um NÂO...
    Acho que tu fez bem em pular fora, viu. Vai saber quando é que o cara ía se fragar que estava encomodando.
    Quando a companhia é boa, tudo bem, mas quando começa a se tornar perturbardor a melhor coisa a se fazer é saltar fora rápido.....

    bjsssss

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  6. Oi, Nat.

    Que história, heim?

    Apesar que eu não estranho o fato dele ter ficado todo atraído por você. hahaaha!

    (Não fique convencida com o que vai ler a seguir. hehe!).

    Afinal, pelo que já pude ver você é uma mulher de personalidade, inteligente, culta, sensível, forte amável, boa amiga e extremamente agradável. Já bastaria isso para fazer você um ser notável, como bem é. Mas além de tudo você ainda é L-I-N-D-A! o.O

    Enfim, sei que ele foi chato para caramba e se eu fosse mulher também teria me estressado com tudo isso. Mas dá até que dá para entendê-lo de certa forma, pelo menos diante de alguém como você...

    Beijos, moça!

    http;//solucomental.blogspot.com

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  7. É minha querida... Que sua beleza é incomum ninguém duvida...

    Mas pelo teu relato, o tal fotógrafo não me parece tão profissional assim, pois acho que queria te oferecer vinho pra tentar mais alguma coisa (até eu tentaria... kkk)... Ele deve ter confundido o profissionalismo com apaixonite por ter visto "material" tão fino!!

    Mas o que me surpreende é a sua coragem de posar nua pra uma pessoa, estanvo vocês completamente sozinhos, o que aumentaria o teu risco...

    Mas graças à Deus deu tudo certo...

    Quuem sabe eu não te chame pra fazer umas fotos hein???kkk

    Bbeijos e saudades...
    __________________________________________________
    Visite: http://opinenoblog.blogspot.com

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  8. Uau!
    Que história hein?Pensava que essas coisas só aconteciam em fimes!
    Tem cada louco por aí hein ?

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  9. fiquei imaginando alguem dizendo "aceita um vinho" e tu olhando pra cara da pessoa, assustada, se virando e começando a correr :x
    huahuauhauhuhauhahuhua

    artistas obsessivos em relaçao à seus (suas) modelos... parece q não é lenda
    =p


    www.thiagogaru.blogspot.com

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  10. Obsessões desse tipo devemos cortar logo de inicio.
    Passou um filme pela minha cabeça. Um trilher de drama e suspensa daqueles em que 'a mocinha' se vê cercada pelo 'vilão' e sequestrada, ameaçada psicologicamente... aff
    Parto logo para a dramaticidade da coisa.
    Mas é que sempre devemos mesmo ficar com os dois pés atras.
    Fora isso, imagino que o tabalho deve ser bem interessante, posando enquanto se pode conhecer varias formas de artes e seu autores!

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  11. Nossa q macabrooo, esse cara deve ser um tarado realmente eu na sua pele tbem sairia correndo aliás sou tão medrosa que seria capaz de ir na policia e dizer que ele está obsecado por mim e que temo pela minha vida rs... "exagerada eu"?
    Bom n fique com trauma da arte afinal vc deve ser boa nisso, é so encontra outra pessoa menos maluquinha rs
    ahhh e o vinho?? Era bom pelo menos?

    Eu tbem nunca mais beberia vinho... Que eu alias adorooO

    Mas ficaria sem duvida traumatizada... É asustador sim... Mas n se prenda a isso viu!

    Malucos existem em toda as partes eu ja encontrei alguns tbem... O negocio é se livra deles e não se prender a esse medo.

    Bjokisss

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  12. Nat, este é um de seus melhores textos e, com certeza, das melhores coisas que li na blogsfera ultimamente.

    Pessoal, intimista, convidativo e, por fim, prazerozo de ler; a narrativa está tecnicamente perfeita.

    Início, meio e fim bem delineados; objetiva, com personagens bens construídas e amarradas - tanto à história quanto uma à outra; e, sobretudo, concisa!

    Esta concisão foi o ponto alto do texto. O que me gratifica, pois, tenho a ligeira impressão de tê-la influenciado nesse sentido.

    Você está pronta para largar a medicina e COMENÇAR a se dedicar INTEGRALMENTE ao jornalismo.

    Quando quiser uma aula particular é só vir aqui em casa, a gente toma um vinhozinho antes...hehe

    Kiso

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  13. eu gostei
    xD

    se puder
    http://sonabrisa.nomemix.com/

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  14. Aceitaria uma palavra de Jesus então?

    que surreal parece eu dizer isso...

    Ele quer seu bem, e te ama. converse com ele hoje, sem vinho telefonemas, mas nua de alma.

    sabe? tbm gosto de fotografia e desenho, sou doido mesmo por esse tipo de arte. tenho medo de estar no caminho errado na faculdade, correndo atras de grana... atras de grana...

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  15. Parabéns pelo blog!
    Criativo e inteligente.
    Se puder,visite o meu.
    TE CUIDA!!
    BOM SABADO PRA TI!!!

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Kiso